Testemunho de gambianos refugiados na Guiné-Bissau

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Testemunho de gambianos refugiados na Guiné-Bissau

E-Global, 12 Jan 2017

URL: http://e-global.pt/noticias/lusofonia/guine-bissau/testemunho-de-gambianos-refugiados-na-guine-bissau/
A Guiné-Bissau está a receber cidadãos da Gâmbia que fogem à tensa situação política no país. Os cidadãos gambianos estão a dirigir-se para Bissau e algumas cidades no interior, temendo o eclodir de um conflito no país, onde o presidente cessante, Yahya Jammeh, recusou abandonar o poder após a sua derrota eleitoral. Os registos apontam que, a Bissau, já refugiaram cerca de cinco centenas de gambianos.
Fatú Camará, uma das refugiadas gambianas, deixou o marido em Banjul e veio para Bissau com os seus cinco filhos. Para esta refugiada, hospedada em casa de um familiar na capital guineense, o importante é salvaguardar a sua vida e dos seus filhos. Mas, esta semana, disse, o marido ligou informando que Yahya Jammeh teria aceitado os resultados, mesmo assim, disse não pretender voltar já para o seu país. “O meu marido me ligou ontem a noite, informando que Yahya Jammeh aceitou os resultados, mas nós não acreditamos nisso”, dizia a refugiada Fatu Camará, em dialeto mandinga, dominante na Gâmbia.
Outra refugiada é uma adolescente de 19 anos, Vanusa, que está em Bissau, onde chegou com mais quatro crianças. Estudante e com manifestamente ansiosa de regressar à Gâmbia, apelou ao Presidente cessante, Jammeh, para deixar o poder, permitindo que todas as crianças continuem as aulas, enquanto futuros dirigentes do país.
“O apelo que tenho é para que nos deixe estudar, pois nós somos o futuro daquele país”, refere a adolescente gambiana refugiada em Bissau.
O medo e a insegurança continuam a dominar o quotidiano dos gambianos. Há quem testemunhe o preocupante cenário de violência no país. Por exemplo, quem usar uma T-shirt com o Presidente eleito corre sérios riscos. “Muitas pessoas estão preocupadas, porque qualquer um que vestir a camisola de Adama Barrow sujeita-se a agressão”, revelou, por exemplo, Mamadi Camara, um gambiano refugiado em Bissau, desde 24 de Dezembro.
Mulheres e crianças representam o maior número dos gambianos que já atravessaram a fronteira, com o destino a Guiné-Bissau, desde o despoletar da crise política pós-eleitoral naquele país da África ocidental. E, mesmo com a advertência da CEDEAO, o presidente cessante, Yahya Jammeh, recusa abandonar o poder, alegando fraude eleitoral.