Angola e RDC privilegiam segurança e ordem pública

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Angola e RDC privilegiam segurança e ordem pública

Jornal de Angola, 06 Feb 2019

URL: http://jornaldeangola.sapo.ao/politica/angola_e_rdc_privilegiam_seguranca_e_ordem_publica
Falando aos jornalistas no Jardim do Palácio Presidencial, no termo das conversações com o homólogo da RDC, Félix Tshisekedi, em visita de Estado ao país, João Lourenço disse que a cooperação no domínio da segurança se justifica pelo facto dos dois países se encontrarem numa zona considerada turbulenta, a chamada Região dos Grandes Lagos, por um lado e o Golfo da Guiné, por outro lado.
“Por essa razão, os nossos países não podem, em mo-mento algum, descurar da questão da segurança de cada um, individualmente fa-lando, e da segurança de toda a região, de forma coordenada”, realçou.
Além destas áreas, o Presidente João Lourenço manifestou um particular interesse em assinar acordos bilaterais de cooperação em matéria migratória, reorganizar e dinamizar as trocas comerciais, em particular o comércio transfronteiriço.
O Presidente da República manifestou também o interesse em discutir e negociar formas de Angola poder beneficiar da energia produzida pela Barragem do Inga para Cabinda e outras localidades fronteiriças da província do Zaire. Pretende-se igualmente explorar, da melhor forma, a utilização do Caminho-de-Ferro de Benguela e o Porto do Lobito, não só para o escoamento dos minérios exportados de Katanga para os mercados internacionais, mas também para servir de porta de entrada das importações para a RDC.
“Cada um dos nossos países tem muito a oferecer ao outro. Se formos pragmáticos, acredito que todos ganharemos e conseguiremos ultrapassar paulatinamente alguns dos desafios comuns”, disse João Lourenço.
João Lourenço salientou que durante o encontro foi possível destacar a necessidade de fazer passar as velhas intenções para projectos concretos, enfatizando que estes projectos são importantes para ligarem ainda mais os dois países, que têm uma vasta fronteira, que não tem sido suficientemente explorada no interesse de ambos.
O Chefe de Estado lembrou que Angola e a RDC são países com grandes recursos minerais e podem, através do investimento privado, fazer com que angolanos invistam na RDC e estes, por sua vez, em Angola, uma forma de “ultrapassar alguns dos problemas como electrificação, industrialização e desemprego”.
Durante a intervenção, João Lourenço felicitou Félix Tshisekedi por assumir um cargo de alta responsabilidade e reiterou o interesse de Angola em trabalhar com o seu Go-verno no reforço dos laços de amizade e cooperação.
O Presidente João Lourenço disse sentir-se regozijado pelo facto de Félix Tshisekedi ter destacado Angola como primeiro país a ser visitado neste périplo que faz por África. “Angola e a República Democrática do Congo são dois países vizinhos que partilham uma longa fronteira terrestre comum de 2511 quilómetros, cuja história e cultura se cruzam ao longo dos tempos desde o antigo Reino do Congo”, reconheceu o estadista angolano.
João Lourenço falou dos desafios comuns que os dois países enfrentam inerentes à condição de subdesenvolvimento em que se encontram. Juntos, Angola e RDC, disse, podem partilhar experiências e vencer a realidade actual que tem a ver com a falta de infra-estruturas de electrificação, industrialização e desemprego.

Comissão mista
Agradecido pela hospitalidade, o Presidente da República Democrática do Congo disse ser portador de uma mensagem de paz do povo congolês, falou do processo eleitoral que o conduziu à vitória, reconhecendo não ter sido um processo perfeito. Mas destacou o facto de terem sido eleições pacíficas, civilizadas e históricas, sobretudo porque lançam o país para o caminho da democracia e alternância.
Em face disso, o Presidente da RDC afirmou que veio com o propósito de solicitar o apoio de Angola para este processo de instauração da democracia no seu país.
Félix Tshisekedi disse que veio também para manifestar a intenção de colaborar com Angola em todos os projectos que existem e no desenvolvimento de novos. Sobre a Zona de Livre Comércio da União Africana, disse que vai merecer o empenho do seu país e que é preciso “reforçar os nossos laços, já que muitos gostam de dizer que África é o futuro do mundo”.
O Presidente da RDC anunciou, para os próximos dias, a realização, em Kinshasa, do que considerou “grande reunião da comissão mista” que devia ter tido lugar em Fevereiro do ano passado.
Sobre o que Félix Tshisekedi formulou ao homólogo angolano, disse ter recebido resposta positiva quanto à organização e realização do funeral do pai, Etienne Tshisekedi, cujos restos mortais se encontram em Bruxelas. “Estou muito grato em visitar Angola. Esta é a terceira vez”.
Quanto aos conflitos étnicos, situação no Leste do país, Félix Tshisekedi lembrou que a sua campanha sempre se baseou na promoção da re-conciliação nacional e no combate ao tribalismo como um anti-valor. “Vamos combater este mal até às ultimas energias. O Congo que deverá ser construído, deve ser unido e que não tenha lugar a raiva ou discriminação. Prometi e vou fazer”, sublinhou.

“Operação Transparência”
Em relação à “Operação Transparência”, Félix Tshisekedi disse ter abordado com o Presidente João Lourenço a necessidade do respeito pelos recursos naturais dos dois países, reconhecendo que a exploração anárquica de recursos tem a ver, na maioria das vezes, com a falta de condições de vida, o que é apenas um reflexo humano de sobrevivência.
Para travar a vaga migratória de congoleses, Félix Tshisekedi sublinhou que é sua promessa melhorar as condições de vida com emprego duradouro e seguro para estancar a vontade de emigrar.
Tshisekedi reconhece ser legítimo Angola proteger as suas riquezas, sobretudo quando são objecto de exploração anárquica e incontrolada. O Chefe de Estado congolês pediu que as autoridades de migração do Con-go colaborem com as de Angola para que o repatriamen-to ou expulsões sejam feitas em condições humanas aceitáveis na base do respeito dos direitos, liberdades e garantias.