Angola lidera em números de refugiados

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Angola lidera em números de refugiados

Jornal de Angola, 04 Oct 2018

URL: http://jornaldeangola.sapo.ao/politica/angola_lidera_em_numeros_de_refugiados
Angola é o país da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) que mais acolhe refugiados, reconheceu ontem, em Luanda, o oficial sénior de protecção do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) em Angola, Wellington Carneiro.

O responsável da instituição criada pela Resolução Nº 428 da Assembleia-Geral das Nações Unidas, em 14 de Dezembro de 1950, para dar apoio e protecção a refugiados de todo o Mundo, disse que Angola tem nesse momento um número que ronda aos 70 mil, podendo mesmo chegar a 80 mil refugiados.
Wellington Carneiro, que falava à margem de um encontro promovido pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) e pela Rede de Protecção ao Migrante e Refugiado, acrescentou que o país está bem avançado no que diz respeito à questão dos refugiados.
O responsável destacou o facto de o Governo angolano mostrar interesse em começar, já em Dezembro ou Janeiro, com o registo dos refugiados e a implementação da Lei 10/15, sobre os refugiados. Em seu entender, esse instrumento legal é fundamental na medida em que vai proporcionar um bem-estar e protecção dos refugiados em Angola.
O responsável revelou que o ACNUR reagiu positivamente quando, em 2017, por ocasião dos conflitos que se registaram na República Democrática do Congo (RDC), Angola deixou propositadamente abertas as suas fronteiras para que os cidadãos que se encontravam nas zonas de conflitos se refugiassem no país. “Estamos muito satisfeitos por isso”, frisou.
Quanto ao estado actual de comodidade dos refugiados de Cassai, que se encontram na província da Lunda-Norte, o oficial sénior do ACNUR disse que eles estão bem acomodados. “Há condições ideais para eles permanecerem em Angola com dignidade”, salientou.

Estabilidade na RDC
No entanto, o responsável sublinhou que o ACNUR está muito expectante em relação à estabilização da RDC após as eleições que devem acontecer em Dezembro. Disse que o momento pós-eleições naquele país é que vai determinar se os mesmos regressam já àquele país ou se deverão permanecer por mais algum tempo em Angola.
Quanto aos países que não aceitam receber refugiados sempre que os mesmos solicitam asilo, o alto responsável do ACNUR disse haver hoje no Mundo um “populismo barato que visa politizar a questão dos refugiados e que, em função disso, tem dado lugar à xenofobia e à falta de solidariedade entre os povos”.
Disse que essa situação está a afectar o ambiente político em muitos países, principalmente na Europa.
No entender de Wellington Carneiro, trata-se de uma tendência muito preocupante e regressiva, na medida em que, no século IXX, os europeus também foram grandes emigrantes e refugiados.
Recordou que, depois da IIª Guerra Mundial, o resto do Mundo, como África, América e a Austrália receberam milhares de europeus que fugiam dos seus países devido à situação que viviam. “Eu acho que não podemos esquecer o nosso passado”, salientou o oficial sénior do ACNUR, para quem receber os refugiados é uma obrigação histórica e um compromisso de todos os países democráticos.
O responsável referiu que há hoje no mundo 65,3 milhões de pessoas que se deslocaram em virtude de conflitos armados, perseguições e outros motivos e 21 milhões de refugiados. “Turquia é o país que mais recebe refugiados a nível do mundo”, acentuou.
O oficial sénior do ACNUR sublinhou que África não é o continente com mais migrantes no Mundo. O responsável disse que, nesse momento, o Oriente Médio e a Ásia são as regiões com mais deslocamento forçoso.
Wellington Pereira Carneiro defende que a comunidade internacional faça mais pela paz mundial. “É preocupante o número de refugiados que o mundo tem”, concluiu.
O encontro juntou várias sensibilidades no auditório da Universidade Católica de Angola, para fazer uma reflexão à volta do tema “Reflexões sobre os pactos globais da migração”.